OS PORTOS & STARTUPS

Hugo Metelo Diogo, Bluegrowth
Nascido em 1283, o Porto de Roterdão foi tomando conta das margens da cidade até atingir 10000 hectares e gerar 70000 postos de trabalho que lhe permitem movimentar um “throughput” anual superior a 400 milhões de toneladas. Roterdão é um dos maiores e mais antigos portos da Europa e entre a década de sessenta e oitenta afirmou-se como um dos portos mais movimentados do mundo. Atualmente, o tráfego gerado pelos mais de 140000 navios que ali fazem escala anualmente para dar resposta à demanda de mais de 350 milhões de consumidores tem vindo a ser amplamente ofuscado pela performance de portos asiáticos com o Singapura e Xangai.

Apresentando-se como um “ecossistema marítimo onde a ambição sem limites se pode tornar realidade”, há muito que o Porto de Roterdão vem fomentado o empreendedorismo, atraindo pessoas, ideias e negócios inovadores seguindo a ambição de se afirmar como o porto mais inteligente do mundo. Numa iniciativa sem precedentes, já no primeiro trimestre de 2016, a “joia da logística da Flandres” vai lançar um programa inovador de suporte ao empreendedorismo em contexto portuário: o PortXL.

O PortXL consta de um programa de “mentoring” e aceleração de startups assente nos princípios da inovação-aberta aplicada às indústrias marítimo-portuárias. Dez novas empresas criteriosamente selecionadas irão beneficiar de um programa de aceleramento, onde irão ser treinadas intensivamente por 150 mentores de indústrias líder mundiais e terão acesso a mais de 200 investidores de diversas organizações marítimas de renome internacional, cuja missão será apoiar estas startups a evoluírem das ideias para modelos de negócio sustentáveis focados em quatro indústrias estratégicas: transporte e logística, marítima, energia e refinarias.

Parceiros como a E. ON, Heineken, Boskalis, Damen, Van Oord, Ernst & Young, CIC Cambridge, Erasmus Centre for Entrepreneurship, Innovation Quarter, Rabobank, First Dutch e Vopak estarão fortemente envolvidos neste processo de fazer chegar ao mercado os resultados de iniciativas de disrupção tecnológica, alavancadas por este conjunto de dez novas startups selecionadas para marcarem o momento de viragem desta nova Era para o Porto de Roterdão.

Em Portugal, passados seis anos da publicação do estudo do Hypercluster do Mar, muito se tem esgotado palavras como “conhecimento” e “Mar” sem que delas tivéssemos extraído o produto para alavancar uma reviravolta numa economia que passou uma década sem crescer. É indiscutível o potencial do mar e das regiões costeiras na geração de valor. Já o provamos noutros tempos e de outros mercados nos vão chegando casos de sucesso onde as boas ideias, o conhecimento e a iniciativa têm dado lugar à geração de postos de trabalho e crescimento económico do qual o nosso país tanto carece. 


Chegamos, provavelmente, ao momento de nos questionarmos sobre o porquê deste “mar de oportunidades” que ainda não se ter convertido em valor. Porém, sem querer aprofundar a reflexão muito para além da dicotomia entre o que temos feito em Portugal e a iniciativa de Roterdão, assinalaria as grandes diferenças enfatizando uma realidade onde o tecido empresarial se mobiliza para alavancar o empreendedorismo alinhado com os desafios de quatro indústrias-chave; em oposição com a nossa realidade, na qual muito do investimento no dito “conhecimento” se vai revelando distante quer do mercado de consumo quer dos desafios do setor empresarial.

Poderá existir uma verdadeira “Economia do Mar” sem que o “conhecimento” esteja alinhado com o mercado? Não me parece.


Espero que o exemplo de Roterdão inspire o mundo e que nos inspire a “nós” na sua adaptação à nossa realidade. Entramos numa etapa onde os diferentes atores económicos devem convergir em objetivos concretos e na abertura das portas a novos perfis de empreendedores. Não me parece possível a criação de uma “nova economia” com as formas antigas de estar e de pensar.

Há muito que os nossos portos são centros de negócio abertos ao mundo, cumprindo a sua missão no desenvolvimento do território com a sua capacidade e atrair investimentos. Sobre a capacidade dos nossos portos em promoverem a interconectividade entre pessoas e negócios recai a minha esperança de que sejam estes a assumirem-se como os drivers do crescimento económico assente no potencial dos mares, oceanos e das zonas costeiras.

Portugal é um porto e um porto é uma porta aberta ao mundo! Saibamos abrir as portas…


Hugo Metelo Diogo 

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