AQUACULTURA 4.0

A importância da revolução industrial em curso na competitividade do setor aquícola e na missão de alimentar a população mundial.


As influências da poluição ambiental, a escassez de energia, envelhecimento da população e a proliferação de doenças resultantes do estilo de vida da sociedade contemporânea têm motivado a preocupação das pessoas com a manutenção de estilos de vida saudáveis, qualidade dos cuidados de saúde e, sobretudo, com a qualidade das dietas baseada na alimentação rica em proteína e baixo teor de colesterol. Tal veio a resultar num aumento da procura de alimentos de génese aquática (de 10kg per capita em 1960, para aproximadamente 19 kg em 2012), começando a ser notória a incapacidade dos processos de captura selvagem para dar resposta à demanda, resultando tal facto no crescimento exponencial da produção de recursos marinhos em cativeiro: a aquacultura.

Os avanços científicos verificados nos últimos anos neste sector têm sido facilitados em grande parte pela aplicação da ciência e pela introdução de novas tecnologias (Bostock 2011). As tecnologias da informação estão cada vez mais a desempenhar um papel muito importante. Tecnologias emergentes em áreas de rede de sensores, computação em rede, computação ubíqua e computação sensível ao contexto estão a permitir o desenvolvimento de soluções práticas e inovadoras, melhorando as capacidades de monitorização e tomada de decisões (Aqeel-Ur-Rehman et al. 2014).

  • A “Internet of Things” (IoT) e dos sistemas de “fog computing para promover a interoperabilidade quer entre instrumentação de precisão quer entre equipamentos utilizados no processo produtivo;
  • O “Data Analytics” e a inteligência artificial para reforçar a tomada de decisão baseada no conhecimento para a otimização dos processos de maneio e consequente redução de custos com alimentação e consumos energéticos;
  • Os sistemas de “cloud computing” e modelos de distribuição de Software-as-a-Service (SaaS), de modo a retirar todo o proveito dos princípios da “Economia de Partilha” enquanto instrumento para viabilizar a penetração tecnológica em tecidos empresariais emergentes e com baixa capacidade de investimento
De acordo com o relatório da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), já em 2008, a aquacultura representava, globalmente, cerca de 46% dos peixes introduzidos no mercado para consumo humano, registando uma taxa de crescimento de 6-8% ano. No estudo publicado pelo Fórum Económico Mundial (Asche, 2015), é referido que o aumento da importância da aquacultura se deve ao facto dos desembarques de pescado capturado terem atingido os seus máximos no final de 1980, em parte devido a um aumento de produtividade da aquacultura (Anderson 2002; Asche 2008) e que a maioria dos especialistas não acredita ser possível aumentar mais. No entanto, embora se tenha verificado um significativo aumento do conhecimento e do desenvolvimento tecnológico, a aquacultura é, ainda, uma indústria emergente (Asche, 2008).

Devido ao aumento da procura de alimentos, a pressão do mercado e a crescente preocupação com questões ambientais e de qualidade alimentar, as pessoas estão a realizar um esforço extra e a aplicar técnicas especiais para aumentar a produção de alimentos, melhorar a qualidade dos produtos e proporcionando um desenvolvimento sustentável. A aquicultura é um sector muito diversificado em termos de produtos, sistemas de produção e estruturas empresariais, as quais possuem diferentes graus de desenvolvimento em todo o mundo (Lekang 2007).

Através de uma crescente digitalização dos processos de criação, gestão e produção, o conceito Indústria 4.0 define níveis superiores de interconetividade e controlo de toda a cadeia de valor dos produtos, por forma a responder à crescente individualização dos mercados mundiais e proporcionar a geração de maior valor acrescentado. Este é um conceito que engloba as principais inovações tecnológicas dos campos de automação, controlo e tecnologia da informação, aplicadas aos processos de manufatura.

No entanto, num contexto em que, cada vez mais, o pescado que consumimos é produzido e não capturado, a fileira do pescado não poderá ficar alheia a este novo período no contexto das grandes revoluções industriais. Consequentemente, as “fábricas inteligentes” incutirão mudanças na forma como os produtos serão manufaturados, causando impactos em diversos setores do mercado.

Não será exagerado afirmar que a competitividade das indústrias de produção aquícola da Bacia do Mediterrâneo só poderá começar a jogar no mesmo campeonato do mercado Asiático, quando o processo produtivo migrar do velho empirismo para uma modelo de produção inteligente e sistemático onde, a tomada de decisão é suportada por avançadas capacidades de análise e processamento de dados em tempo real.

Autor: Hugo Metelo Diogo

Comentários

Mensagens populares deste blogue

BLUEGROWTH - CARTA DE MISSÃO E VALORES

DO AZUL PARA O VERDE: BLUEGROWTH LEVA O MAR À ARICULTURA

GLINTT INOV NA POSIDONIA 2014